Não Foi Por Basquetebol. Foi Por Atitude.
Ontem dei uma boa bronca ao meu filho.
E não, não foi por causa do basquetebol. Foi por atitude.
Por esse ar de exigência constante que as crianças de hoje carregam — habituadas a que tudo se adapte ao seu ritmo, às suas vontades, ao seu humor.
E por esse reflexo tão cómodo e tão perigoso que nós, adultos, temos de confundir educar com agradar.
Não foi bonito.
Falei-lhe com dureza, cansado de tanto “já vou”, “faço depois”, “não me apetece”, “quero isto e depois aquilo”.
Mas enquanto o repreendia, uma parte de mim sabia que por trás da raiva havia algo mais: cansaço.
Não apenas o do dia ou da semana.
Mas aquele cansaço mais fundo que se cola a nós como uma sombra: o de viver num corpo que nem sempre responde, num mundo que nem sempre ouve, e num ambiente que pede calma, mas às vezes empurra-te ao limite.
Sem querer — mas empurra.
A Ira Como Idioma do Cansaço
Não me orgulho da forma como falei.
Mas alegra-me ter percebido o porquê.
Às vezes, a ira é o idioma do cansaço.
Também para as crianças.
E se não a traduzimos, acaba por falar por nós.
Não era apenas uma questão de obediência.
Era um grito a algo maior:
a um contexto que fez do consentimento o seu escudo e da exigência um crime.
Sim, as crianças têm direito a errar, a expressar-se, a serem ouvidas.
Mas também precisam de aprender que nem tudo se negoceia.
Educar não é evitar o conflito — é saber acompanhá-lo.
E sem limites, o amor transforma-se num ruído de fundo que acaba por passar despercebido.
A Deriva do Basquetebol Formativo
O basquetebol formativo não vive isolado da sociedade.
É o seu espelho.
E o que vemos nos campos não é muito diferente do que se passa em casa.
A deriva não começou com as fraudes de idade nem com os clubes obcecados por resultados.
Começou quando os adultos deixaram de sustentar o esforço.
Quando cedemos ao cansaço coletivo,
quando optámos pelo rápido e fácil,
quando confundimos não pressionar com não exigir.
Compreendo: cansa remar contra a corrente,
cansa manter a coerência,
cansa educar sem aplausos.
E quando as crianças se frustram,
os pais intervêm,
os treinadores cedem.
Tudo é “adaptar”, “compreender”, “não frustrar”.
Mas cuidar não é proteger do esforço,
nem da disciplina,
nem do erro.
Cuidar é ensinar a sustentar tudo isso.
Falamos de valores e respeito nas redes,
mas depois agimos movidos pela pressa, pela queixa e pelo medo de frustrar.
Os adultos oscilam entre dois extremos:
a exigência que asfixia e a indulgência que esvazia.
E, no meio, as crianças aprendem que o limite é negociável.
Formar sem firmeza é como ensinar a jogar sem regras.
O Mundo Que Lhes Pusemos Debaixo dos Pés
O problema não são as crianças.
É o mundo que lhes construímos.
Um mundo sem pausas, sem espera, sem responsabilidade.
Onde o desconforto é visto como agressão
e o esforço como castigo.
Um mundo onde o mérito já não importa.
E quando esse modelo chega ao treino,
já não se pode ensinar o mesmo.
Porque ensinar sem exigência não é formar — é entreter.
O basquetebol formativo caiu também nessa espiral:
um ecossistema medido pelos imediatos,
decorado com discursos sobre “respeitar o processo”,
vendido como inovação,
mas vivido ao ritmo dos resultados.
Os clubes não suportam ciclos longos,
os pais não toleram minutos no banco,
e os treinadores que tentam formar acabam no ponto de mira.
Entretanto,
aqueles que deveriam aprender a escutar tornaram-se os que decidem o volume.
As crianças mandam.
Os adultos gerem.
Ninguém educa.
Depois da Bronca, o Silêncio
A seguir à bronca, veio o silêncio.
Aquele silêncio incómodo da consciência,
quando percebes que a forma não acompanhou a razão.
Porque a razão estava lá.
O fundo era verdadeiro: estamos a ficar brandos.
Em casa.
Na escola.
No desporto.
Mas a forma… essa é que me pesou.
Percebi que educar — tal como treinar — é caminhar sobre uma corda bamba:
demasiada dureza quebra o vínculo;
demasiada complacência destrói o respeito.
O equilíbrio não está em não corrigir,
mas em corrigir sem ferir.
Em manter a firmeza,
sem esquecer a ternura.
Esse equilíbrio não vende, não dá manchetes,
mas forma caráter.
E o caráter, mesmo que soe a palavra antiga,
continua a ser o que separa um jogador talentoso
de uma pessoa que entende a vida.
Educar não é fazer as crianças felizes o tempo todo.
É ajudá-las a serem fortes quando a vida — e o desporto — não o forem.
Fazer Melhor, Não Mais Fácil
Ontem passei dos limites.
Hoje penso com calma.
E amanhã tentarei fazer melhor — não mais fácil. 💙
Porque, se há algo que precisamos —
em casa, no campo e na vida —
é recuperar o valor de dizer “até aqui”,
com o tom justo, o coração aberto e a consciência tranquila.
Vemo-nos na próxima.
Até lá, continua a construir equipas.
Continua a mudar vidas.
— BballDadGuru
🏀 GuruDrill
O Minuto da Verdade
No teu próximo treino, experimenta isto:
Quando estiverem prestes a terminar,
pede a todos que se sentem no chão, em círculo.
Não digas nada durante alguns segundos.
Deixa que respirem.
Que ouçam o silêncio.
Depois pergunta:
👉 “Em que momento do dia sentiram mais cansaço?”
👉 “E o que fizeram com ele?”
Não procures respostas brilhantes.
Não corrijas.
Só escuta.
Explica-lhes que o cansaço não se vence negando-o,
mas reconhecendo-o.
Há um tipo de cansaço que se treina — o físico —
e outro que se aprende a gerir — o mental e o emocional.
Parar um minuto não é perder tempo.
É ganhar consciência.
“Todos nos cansamos.
O importante não é quanto, mas como seguimos depois.”
Esse minuto, se o fizeres com calma,
torna-se num pequeno espelho:
um onde cada jogador percebe
que o esforço não se mede pelo suor,
mas pela forma como se mantém quando o corpo e a cabeça dizem basta.
💬 Sabedoria de Banda
“Se tudo é fácil, nada ensina.
Se tudo se negoceia, nada se aprende.”
— BballDadGuru
🎵 GuruBeats
“Hallelujah” – James Arthur
Uma canção que soa a rendição e esperança ao mesmo tempo.
Para os dias em que o corpo não chega,
a cabeça se satura
e a alma pede pausa.
Não fala de religião, mas de fé:
a de continuar a acreditar no que fazes,
a de te dares e concederes-te outra oportunidade —
Mesmo quando o ruído e o cansaço superam-te.
⚡ MiniTip Express
O cansaço tem má fama.
Mas às vezes é apenas a prova de que continuas presente.
De que dás mais do que te resta.
Não te castigues por não conseguires tudo.
O corpo também educa quando ensina limites.
E a tua forma de os gerir pode ensinar mais do que qualquer tática.
Quando estiveres à beira,
baixa o tom — não o padrão.
E se um dia passares dos limites,
Pede desculpa e descansa.
Isso também é formar.
Isso também é aprender.