Iniciar a prática de uma modalidade no escalão de Sub-6 é, sem dúvida, um desafio…quiçá uma barbaridade. Ou não?
Por um lado, pode parecer demasiado cedo para “ensinar” uma modalidade, por outro, talvez seja precisamente este o momento ideal para começar… mas de forma diferente.
Quando falamos de crianças de 4 e 5 anos, não falamos de treinos, nem de táticas, nem de sistemas de jogo. Falamos de brincar, de descobrir o corpo, o espaço, e principalmente os outros. Falamos de correr, saltar, trepar, cair, chutar, rir e rebolar. Falamos, acima de tudo, de devolver às crianças algo que a sociedade, por várias razões, lhes foi retirando…a liberdade de brincar.
Hoje, as crianças já não brincam na rua. Brincam pouco nas escolas e jardins de infância, e quando o fazem, é sob constante supervisão, e com receio de se magoarem e/ou de que alguém se ofenda por isso. Vivemos tempos de sobreproteção, onde a experiência natural do risco e da descoberta é quase inexistente.
E é aqui que os clubes desportivos podem e devem assumir um novo papel. Talvez esteja na altura de deixarmos de ver o treino apenas como um espaço de aprendizagem técnica e começarmos a vê-lo também como um espaço de desenvolvimento humano e motor. Se os treinadores se queixam da “fraca bagagem motora” com que os jovens atletas chegam aos escalões de formação, então talvez esteja nas nossas mãos começar a mudar isso. Promover atividades adaptadas a este público mais jovem, onde o foco seja o movimento e não o resultado, pode ser o primeiro passo. É preciso adaptar o treino, sim, mas também a mentalidade. É preciso aceitar que, aos 4 e 5 anos, brincar é treinar.
Talvez este seja mesmo o caminho…um caminho que começa com pequenos passos, mas que pode fazer uma grande diferença no futuro do desporto e, sobretudo, na vida das crianças.